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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Acurís e Figueiras no Pantanal...

No Pantanal é comum encontrar figueiras estrangulando acurís. Veja a foto de um acurí bem característico que eu tirei no Pantanal de Barão de Melgaço-MT:



Veja então esta foto da situação descrita: um Ficus estrangulando um acuri no Pantanal. A foto é do acervo particular do Eduardo:


Agora veja o trabalho que estas duas cientistas escreveram sobre isso:

Ocorrência de Acurís (Attalea phalerata) infectados por Figueira-Mata-Pau (Ficus sp.) na região pantaneira do estado do Mato Grosso


Silva Lidiane Souzaa & Damacena Isabella Souzab

a Graduação Ciências Biológicas Faculdade da Terra de Brasília (lidianess@bol.com.br)
b Graduação Ciências Biológicas Faculdade da Terra de Brasília

1.Introdução

Visando saber a quantidade de Acurís infectados pela Figueiramata-pau e o número de Acurís que mantinham-se livres, foi então observado um capão de área de 8.397m2, na região de Transpantaneira,localizada próximo ao município de Poconé – MT.
O Pantanal existe a aproximadamente 60 milhões de anos. E está localizado entre os paralelos 16 a 22 graus de longitude e os meridianos 55 e 58 graus de longitude oeste, com uma altitude média de 110m. O Pantanal Mato-grossense é uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta e está localizado no centro da América do Sul na bacia hidrográfica do Alto Paraguai. A área do Pantanal dependendo da fonte de pesquisa varia de 125.000 a 260.000 Km2 nas cheias a área coberta estende-se por 600 Km, com até 250 km de largura.
Nessa região tipicamente tropical, a chuva controla o regime dos rios, por sua vez, determinam o ciclo das cheias. Entre outubro e março estão os meses chuvosos, responsáveis por mais de 80% das precipitações anuais em média, situam-se entre 1.000 e 1.200 mm. em função da lenta drenagem fluvial, as inundações acontecem de janeiro a junho, pois tanto a subida quanto a descida das águas sofrem o retardamento de três meses. Portanto, não são as precipitações que causam as inundações no Pantanal, e assim a lentidão do escoamento das águas dos rios em função da planura da área e da dificuldade de vazão do rio Paraguai.
A planície do Pantanal é banhada pela bacia do rio Paraguai. Seus principais afluentes os rios Cuiabá, Taguari e Miranda descem as escarpas do planalto brasileiro no sentido leste-oeste, de onde trazem enorme carga de sedimentos, que são depositados na planície ainda em formação. (Câmara, 2002).

O Acurí (Attalea phalerata) é uma palmeira de inflorescências unissexuadas, que pode chegar até 12m de altura. É uma planta forrageira, quando jovem é bem pastado, mas quando adulta as folhas acessíveis estão velhas ou secas, geralmente servem de abrigo para as epífitas, abelhas, morcegos e aves. O fruto desta planta é alimento para roedores, porcos, gado, araras, periquitos, jaós e mutuns. Fornece água de coco, fruto, semente, óleo e palmito. É apícola. Abrigam epífitas como figueiras e bromélias, além de morcegos, abelhas e aves. A Utilização dos frutos tem grande importância na dieta de aves ameaçadas de extinção, como a arara azul.
Também serve de alimento para roedores, gado, porco e queixada e como abrigo para abelhas, morcegos e aves. É uma árvore apícola.
A ocorrência é abundante, muitas vezes de formação densa (Acurizal) em matas e caapões (áreas de vegetação densa).
Os acuris são infectados por morcegos que os utilizam como abrigo, este hospede se alimentam dos frutos das figueiras-matapau (Ficus sp.), e depois defecam sobre os acurís, suas fezes ficam cheias de sementes das figueiras. Estas sementes germinam dando origem a uma nova figueira, esta por sua vez se desenvolve, quando suas raízes chegam até o chão, ela se instala no solo e começa a estrangular a palmeira, acarretando assim a morte do acurí.

2. Métodos

Determinou-se um caapão, onde foi desenvolvido o estudo. A área foi medida, utilizando-se uma trena, determinando-se a largura e o cumprimento e para se alcançar o resultado, usou-se a fórmula da circunferência.
Para padronizar a contagem dos Acurís, definiu-se que entre os Acurís infectados pela figueira seriam catalogados conforme o estágio de infecção, sendo, fase inicial, fase média e terminal. Para a fase 69 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003 Complexo do Pantanal terminal foi considerado aqueles que apresentavam estrangulamento total. Os que estavam apenas com um ramo de figueira ainda, se enquadraram em estágio inicial. Os demais estágios de acordo com
o nível de estrangulamento classificaram em médio.
Com o intuito de melhor especificar o objeto de estudo, foi definido que os Acurís acima de dois metros de altura aproximadamente, foram considerados adultos e os abaixo ou igual a essa média, foram considerados juvenis.
O caapão foi dividido em linhas retas que cortavam o caapão perpendicularmente, facilitando assim a contagem dos Acurís no meio da vegetação.

3. Discussão e Resultados

A vegetação que recobre o Complexo Pantaneiro, é bastante variada. Há diversas comunidades vegetais, com domínio nítido de uma espécie. Neste caso, a comunidade toma o nome da espécie dominante, (Allem & Valls, 1987). Neste trabalho foi observada uma comunidade onde a espécie dominante era o acurí, por isso chamamos a região observada de Acurizal. A diversidade animal do Pantanal também é reflexo dos ambientes que o circundam, como o Cerrado, a Floresta Amazônica e o Chaco, sendo rara a existência de espécies endêmicas, (Calheiros & Fonseca Jr., 1996). Acredita-se que essa baixa quantidade de acurís infectados nesta região, esteja ligada a uma pequena incidência de morcegos nesta área, visto que estes mamíferos são os responsáveis pelo deposito de sementes de Figueira-mata-pau, através de suas fezes, sobre os Acurís.
Devido ao fato da fisionomia vegetal pantaneira possuir grandes
áreas de Campo Limpo, pode ocorrer que os morcegos se alimentem da figueira no caapão, porém despersem as sementes em áreas de campo limpo, ou seja, onde não há ocorrência de acurís, sendo um requisito importante a ser analisado para uma melhor compreensão dos resultados obtidos.
Por possuir áreas abertas, o Pantanal possibilita facilmente a visualização de muitos animais, (Calheiros & Fonseca Jr., 1996).
Houve uma incidência abaixo do esperado de Acurís infectados pela figueira em fase terminal. As hipóteses para este resultado, é que por haver um baixo número de morcegos na área, não há tantos Acurís infectados. Contribui ainda para isso uma grande incidência de Acurís em fase juvenil, o que também dificulta essa deposição de sementes da Figueira.

Freqüência de Attalea phalerata (Acurí)

Acurís Livres = 374, sendo:
Adultos = 302
Juvenis = 72
Acurís Infectados = 17, sendo:
Estágio Terminal = 05
Estágio Médio = 04
Estágio Inicial = 08
Total de 391 Acurís contados na área observada.

Densidade de Acurís

Livres = 45
Juvenil = 0,85
Adulto = 3,59
Inicial = 0,09
Médio = 0,04
Terminal = 0,05

Densidade Total: 4,65 % (área)

Área observada: 8,397 m2

4. Conclusões

Portanto, as espécies de figueiras produzem frutos muito atraentes para os morcegos frugívoros (Antibeus lituratus). Estes comem os frutos defecando as sementes junto às folhas do Acurí (Attalea phaleratta). A semente germina e durante o desenvolvimento da figueira, esta tende a se enrolar na palmeira. Aos poucos a figueira provoca o estrangulamento e morte do Acurí, assim como pode ser observado no experimento.
Concluiu-se também que a figueira não necessita dos nutrientes do Acurí, e que o estrangulamento total do Acurí é apenas uma conseqüência do seu crescimento, já que mesmo após a morte do Acurí a figueira ainda continua sua vida.

5. Referências Bibliográficas

ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian. 5º edição. Lisboa: 1997.
ABDON, M. M. POTT, V. J. SILVA, J. dos S. V. Avaliação da cobertura por plantas aquáticas em lagoas da sub-região da Nhecolândia no pantanal por meio de dados Landsat e Spot.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 33, p. 1675-1681,out., 1998. Número Especial.
CALHEIROS, D.F.: FONSECA JUNIOR, W.C. Perspectivas de estudo ecológicos sobre o Pantanal. Corumbá, MS: Embrapa-CPAP, p. 41, 1996. (Embrapa-CPAP. Documentos, N° 18).
POTT, A.; POTT, V.J. Plantas do Pantanal. Corumbá, MS: Brasília: Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal, Serviço de Produção de Informação, p. 320, 1994.
ALLEM, A. C.; VALLS, J. F. M. Recursos Forrageiros Nativos do Pantanal Mato-Grossense. (EMBRAPA-CENARGEN. Documento, 8). 339p., 1987.

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