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sábado, 15 de dezembro de 2007

As Vertentes formadoras da Música de Mato Grosso e o Rasqueado Cuiabano


Foram três vertentes que formaram e ainda formam a musicalidade mato-grossense, sendo que duas, a autóctone e a platina, são as bases primordiais no processo histórico.

Autóctone: A instrumentalização e a musicalidade são de origem local, fruto do coque cultural que os índios da região, negros escravizados e brancos colonizadores, desenvolvida os primeiros anos de fundação das cidades ribeirinhas.

A viola de cocho, o ganzá, o adufo e o mocho, são frutos deste processo.

Os cantos e danças que se fazem com estes instrumentos até os dias de hoje, são as expressões mais antigas da musicalidade do Estado do Mato Grosso, ou melhor dizendo, é o nosso canto primordial.

Platina: A instrumentalização e a musicalidade foram trazidas para a região no processo da colonização, via Estuário do Prata, no séc. XIX, principalmente logo após a Guerra da Tríplice Aliança, (Guerra do Paraguai). Embora já dispusessem do piano, violão, violino, flauta, etc., na camada alta sociedade imperial, estes só eram usados para tocar músicas européias.

A chegada dos imigrantes da região platina: Argentina, Uruguai e principalmente o Paraguai, popularizou tais instrumentos, devido os mesmos serem comuns nas classes mais baixas daqueles países.

Com eles vieram novos instrumentos, como o bandoneon e a sanfona de oito baixos conhecida aqui de pé-de-bode.

Da mescla desses imigrantes com o ribeirinho, vai nascer o sincretismo das vertentes autóctones platinas e a musicalidade e as danças vão começar a sofrer influências, assim como a culinária e até o modo de falar.

Outros Estados Brasileiros: A instrumentalização e a musicalidade foram trazidas com os imigrantes novos, que vieram ocupar o Vale do Araguaia e o Norte do Estado. Com eles vieram o cavaquinho e a viola de pinho. O primeiro instrumento mesclou-se com os grupos de rasqueado, samba e chorinho de Cuiabá, enquanto que a viola de pinho pouco influenciou a música mato-grossense, ficando mais para a região leste no que é hoje o Estado de Mato Grosso do Sul.

Desse instrumento nasceu, na baixada cuiabana, a cantoria da folia dos reis, chamada Folião, praticamente extinto devido a pouca proliferação do instrumento na região. Depois da construção de Brasília, a migração paulista, mineira, e goiana intensificou-se, vindo a seguir a sulista, com os gaúchos, paranaenses e catarinenses, criando um novo mosaico de musicalidade.

Os nordestinos e nortistas, que já haviam chegado, no final do séc. passado, também apareceram nesta época.

Com o advento da televisão, houve uma grande parafernália de fluxos musicais de baixo teor cultural, causando assim uma confusa visão, tanto do músico, quanto da comunidade presente, principalmente nas cidades novas.

Texto do músico e pesquisador Milton Pereira de Pinho - Guapo.


O RASQUEADO

O Rasqueado tradicional, antigamente, era executado na viola de cocho, tendo semelhança, assim, com o siriri e o cururu, enquanto música.

Atualmente, apresenta outras características, utilizando-se amplificadores e instrumentos modernos. A dança é executada aos pares que, abraçados, "bailam" pelo terreiro ou salão de festas.

Comum a todo tipo de festas, desde aniversários, carnaval, o tradicional "chá co' bolo", até festas de santos, o rasqueado costuma atrair novos adeptos que contagiam-se com seu ritmo pulsante, ocorrendo principalmente nos municípios próximos de Cuiabá.

A Definição da Palavra Rasqueado: "... arrastar as unhas ou um só polegar sobre as cordas, sem as pontear". (Acordes em glissados rápidos, rasgado, rasgadinho, rasqueado e rasqueo) - Dicionário Musical Brasileiro - Mário de Andrade.

Origem do Rasqueado Cuiabano: O termo "rasquear la guitarra" é expressão ibérica, de origem árabe-cigana (sul da Península Ibérica).

Em Mato Grosso, a expressão musical Rasqueado Cuiabano ou Dança Popular Mato-grossense, traz no seu processo histórico toda uma saga, que começou após o fim da Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai), quando os prisioneiros da Retomada de Corumbá ficaram confinados à margem direita do Rio Cuiabá, atualmente cidade de Várzea Grande.

Logo após o final do conflito, estes prisioneiros não voltaram para seu país de origem, aqui permanecendo e espalhando-se ao longo do rio, miscigenando-se e inteirando-se à vida dos ribeirinhos. Essa integração resultou em várias influências; costumes, linguajar e principalmente danças folclóricas: a polca paraguaia e o siriri mato-grossense. A primeira, pulsante e larga, modulada no compasso binário-composto, a Segunda, saltitante, com percussão forte (de origem negra-bantu) . a fusão dessas duas danças resultou numa terceira. O Pré-rasqueado.

O Pré-rasqueado limitou-se aos acordes de siriri/cururu, devido o seu desenvolvimento na viola de cocho, nos chamados Tchinfrins (baile de quiçaça), onde as formas de dançar receberam diversas designações como: liso, crespo, rebuça-e-tchuça ... para mais tarde para mais tarde participar das festas juninas, carnaval ou qualquer exaltação festeira dos ribeirinhos. Na baixada cuiabana, mesclou-se com o chamame pantaneiro, que também estava em formação.

Quanto a melodia e ritmo, o pré-rasqueado alterou-se por algum tempo com facetas duplas, isto é: toadas de siriri apareciam como rasqueado e toadas de rasqueado como de siriri. Com a proclamação da República e a necessidade do maior entendimento entre as duas classes (ribeirinhos e elite), surgiu a oportunidade da popularização do rasqueado.

Mais tarde com o crescimento das cidades, apareceram as primeiras zonas de prostituição, e o pré-rasqueado saiu nas bocas das moças da noite e, do convívio destas com os músicos e coronéis nos cafés, foi também parar nas partituras dos mestres de bandas de música para, mais tarde, aparecer nas retretas (já com vários arranjos de influência musical popular muito comum na época, com o chorinho, valsa, samba, maxixe, tanto de Ernesto Nazareth e outros).

O rasqueado desperta com maior intensidade na população da periferia das cidades, quando começa a ser executado com os hinos de santos (acompanhando Bandeiras do Senhor Divino, São Benedito, etc.) indo aparecer nos chamados chá com bolo.

A música do rasqueado só começa a ser aceita pela elite, nas décadas de 20 e 30, onde Honório Simaringo, Antônio Garcia, Conjunto Serenata e até o piano de Zumira Canavarros e Dunga Rodrigues conseguem infiltrar o rasqueado nas noites de saraus e, também com o endosso das famílias cuiabanas mais abastadas.

A influência do rasqueado chegou ao Rock And Roll... Veja a versão de “A Lua”, um dos rasqueados mais tradicionais na bela versão Rock da Banda Strauss.

Aproveite e identifique na letra vários ícones do cotidiano cuiabano e mato-grossense.

A Lua

(clique + SHIF para ouvir)

(Folclore popular/Henrique e Neno/Zuleica Arruda)

A lua quando vem saindo

Por detrás da montanha

É uma solidão

Até parece uma coroa de prata,

Coração da mulata lá do meu sertão


Vem cá morena, sai na janela

Venha ver a lua como está tão bela


A lua quando vem saindo

Por detrás da montanha

É uma solidão

Até parece uma coroa de prata,

Coração da mulata lá do meu sertão


Vem cá morena, sai na janela

Venha ver a lua como está tão bela



Marili, Marilu

Vem dançar o Cururu

Marilu, Marili

Vem dançar o Siriri


Vou tomar guaraná

Chupar caju, comer banana

Passear com você

Doce moreninha cuiabana


Veja mais sobre a Banda Strauss na sua página da Trama Virtual.

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